Na coluna Energia do Jornal da USP, José Goldemberg, Doutor em Ciências Físicas pela USP, Co-Presidente do Global Energy Assessment, e Presidente da FAPESP, fala em entrevista sobre o crescimento da energia fotovoltaica no Brasil. Que está bem abaixo do previsto pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
– Professor Goldemberg, o crescimento da geração distribuída no Brasil está bem abaixo do previsto pela Agência Nacional de Energia Elétrica. Previa-se que até o final desse ano haveria algo em torno de 82 mil unidades consumidoras de geração distribuída. Entre comércios, indústria e residência.
Até o momento mal existem 40 mil unidades. Como o senhor vê isso?
José Goldemberg – 40 a 80 mil unidades significa um pingo d’água. O Brasil tem de 40 a 50 milhões de residências. É claro que existem muitos apartamentos, onde essa tecnologia não se aplica muito bem, mas a energia fotovoltaica ainda é uma contribuição marginal.
Não é como a energia eólica, que apesar das pessoas não acreditarem na contribuição do vento, contribui 4 a 5% para o consumo de energia.
Não se pode falar em potência, tem que falar em energia. E a energia fotovoltaica contribui pouquíssimo.
– Do ponto de vista do consumidor, considerando o preço da energia e etc, não seria vantagem ter uma unidade própria de produção?
José Goldemberg – Claro, seria ótimo. A energia do consumidor fica mais barata. Se o consumidor faz um investimento correto, em torno de 15 a 20 mil reais, ele produziria energia de graça, pelo resto da vida.
Acontece que pessoas de renda baixa não podem aplicar 15 mil reais, e esperar 7 anos para que o investimento retorne.
O Banco Nacional do Desenvolvimento acabou de criar uma linha para facilitar isso. O BNDES e os bancos privados tem linhas maravilhosas para para comprar automóvel, não é? Eu nunca entendi por que tem para automóvel, e não tem para complexos solares, que seria muito melhor para o país.
Mas está começando a ocorrer, ainda assim o tempo de retorno do investimento é de 5 a 6 anos. E as pessoas com menos recursos, tem mais dificuldade. Isso é que está impedindo a expansão rápida.
– Considerando a energia instalada no país, e os problemas que a gente tem para manter isso.
José Goldemberg – Exato, mesmo que a contribuição de fotovoltaicas no conjunto do país, não é significativa, é muito bom para quem aplica essa tecnologia. E de fato, tem alguns lugares que vem aplicando, por exemplo, os supermercados.
Pois agora flexibilizou a regulamentação, e você não precisa gerar a energia no próprio local onde está o usuário. Não precisa, por exemplo, ser no telhado do supermercado, pode ser em um terreno que fique a 30 a 40 km.
Mas precisa ser da área de distribuição da concessionária, o que está criando certas dificuldades.
A proposta para a Secretaria de Energia de São Paulo, é retirar essa limitação, de forma que você possa gerar energia de qualquer ponto do estado de São Paulo.
Então o Grupo Pão de Açúcar, por exemplo, tem vários supermercados por aqui, na cidade de São Paulo, e vai colocar painéis fotovoltaicos lá em Porto Primavera. Onde tem muito mais sol, e a insolação é muito maior do que aqui.
Só que a distribuidora lá em Porto Primavera, não é a Eletropaulo. E essa é uma dificuldade que tem impedido um pouco a expansão da energia solar fotovoltaica.
Agora, ter grandes expectativas de que isso vai resolver o problema das hidrelétricas e da geração utilizando o gás, é incorreta. Quem faz esses cálculos, errou na casa decimal.
Fonte: Jornal da USP